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Experimento faz imagem produzir som no cérebro

Por que ouvimos melhor a voz de alguém ao olharmos para seu rosto, mesmo sem sabermos ler lábios? E por que uma canção que parece vívida num videoclipe soa chata quando apreciada apenas pelo rádio? Um estudo acaba de mostrar que informações visuais invadem áreas auditivas do cérebro, sugerindo respostas para tal.

O artigo, publicado pela revista "Nature Neuroscience", se baseou em um experimento liderado pelo neurocientista português António Damásio, da USC (Universidade do Sul da Califórnia). Mapeando o cérebro de algumas pessoas com ressonância magnética, o grupo descobriu que neurônios usados pelo cérebro exclusivamente para processar sons também reagem a imagens.

O experimento consistia basicamente em submeter voluntários à apresentação de vídeos curtos, enquanto uma máquina registrava quais partes do cérebro exibiam maior atividade.
Todos os vídeos mostravam cenas que remetiam à emissão de sons --um vaso quebrando, um cachorro latindo etc.--, mas eram exibidos sem áudio.

Ao verificar quais partes do cérebro tinham se ativado, o grupo viu que não só áreas ligadas à visão apareciam nos mapas, como também o chamado córtex auditivo de associação, que lê relações entre sons.

Essa região da superfície do cérebro faz parte de um circuito conectado diretamente ao ouvido, e até agora era tida como exclusiva do sentido da audição. Mas como alguém poderia processar sons se os vídeos do experimento eram mudos?

Segundo o estudo da USC, essa estrutura cerebral tida como responsável apenas pela sensação da audição na verdade já inicia uma interpretação inconsciente do som ouvido.

"A informação visual pode nos fazer perceber um mesmo som de modos diferentes", disse à Folha Kaspar Meyer, coautor de Damásio no trabalho. Cada som que escutamos e aceitamos como sendo uma informação pura na verdade está contaminado com memórias de sons passados, explica.

Pesquisadores já sabiam que esse fenômeno ocorre com outros sentidos também, como a visão. Mas Damásio e Meyer mostraram que esse fenômeno pode "vazar" de um circuito cerebral para outro, fazendo do processamento de percepções uma rede altamente complexa.

No experimento conduzido na USC, a memória auditiva de cada evento mostrado nos vídeos induzia a ativação de um padrão de neurônios incrivelmente nítido. Isso é possível porque o córtex auditivo decompõe os sons em frequências, dividindo-os como notas em um partitura musical.

De fato, quando o vídeo mostrava um músico, o mapa do córtex auditivo dos voluntários permitia saber se este tocava violino, contrabaixo ou piano. Dentro de alguns anos, diz Meyer, não é impossível que algum cientista consiga plugar o cérebro de uma pessoa em um amplificador para dar vida a sons criados por imagens.

E com uma imagem sendo capaz de "ressoar" no cérebro, não é de estranhar que música acompanhada de filmagens soe diferente. Se muitos videoclipes hoje não passam de embalagem de luxo para canções pobres, talvez os cineastas fiquem felizes em saber que podem estar ajudando a melhorar o som.

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